sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Pesadelo Importuno


Ela abria os olhos como se sentisse outro dia repleto de imaginações ou de coisas desfeitas, estava vestida de branco. Seu blusão aparentava transparência que suas atitudes já tinham desistido de demonstrar. O som da chuva em sua janela fazia com que seu tempo apagasse resíduos pesados que vagavam pela sua pele. Por trás daquela porta ela se lembrava de quando as promessas foram quebradas, de quando era admirada por outros olhos. Pegava sua xícara e sentia no gole a acidez de tantas mentiras que só aquele quarto conhecia. Dizia para si mesma que aquele jogo não deveria nunca ter começado, e nenhuma chance deveria ter sido dada a quem só desejava repor sua distância. Olhava para o tapete e via todas as roupas que foram jogadas por tormentos propositais. Seu tempo corroía tudo que voltava a tona na sua cabeça. Pedia para parar pelo segundo em que sentia todos que voavam ao redor. Virava devagar apenas para poder olhar os lençóis rasgados, os vidros quebrados, os móveis despedaçados. Tantos livros espremendo cada cinismo que palavras opostas antes significaram. Ir tão longe com os pés descalços, acabar com o choro ao longo do caminho e sentir as advertências que deveriam ter-lhe sido dadas. Verdades por um dia, mentiras por trás da outra. Não queria mais procurar, não queria mais voltar atrás... Só desejava partir. Fazer com que apenas borboletas dessem a ela uma segunda chance, um recomeço para levantar voo. Seu colchão exalava perfumes derramados, no lugar onde tantos sutiãs já teriam sido arrancados. Ela apenas fechou os olhos e respirou fundo para que tudo não passasse de um pesadelo importuno.

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