sábado, 23 de março de 2013

Dose de época


"Por favor, mais uma dose". E enquanto a bebida cortava minha garganta, o som do violino parecia limpar minha mente de todos aqueles desagrados sentimentais. Aquela infelicidade por mostrar felicidade. Como aquelas pessoas sorriam pra destinos que não tiveram chance de mudar, para escolhas que não foram suas. Toda aquela simpatia de época me dava nojo, embrulhava meu estomago. Como podiam amar alguém que não puderam conhecer, ou simplesmente brindar a alegria infiel de outros. Estava completamente desgostosa com aquelas luzes e passos de dança repetitivos. Queria um cigarro para aumentar aquela fumaça de ingratidão e falsidade. "Quem é aquele rapaz?". Eu me perguntava no meio de tantas cinzas. Minha cabeça rodava conforme as cordas se movimentavam, minhas mãos tremiam como a de um drogado imune. Drogas, será que imaginavam que isso estaria sempre presente? Quando me levantava para ir até o bar, notava o meu vestido longo arrastando no chão e trazendo toda a pureza de uma mulher antiquada. Queria apenas mais uma dose, uma dose que pudesse me fazer esquecer. Quem me conduzia naquela noite era o meu passado e nada mais além dele.