terça-feira, 29 de março de 2011

Casa 231



As folhas soavam ruidos sinistros na batida do vento, as janelas batiam, e a névoa escurecia tudo em volta da velha casa no fim da rua. Era a curiosidade dos jovens, e o medo das crianças. Ninguém sabia o que tinha lá dentro, mas todos já ouviram as histórias. Assombrada, esse era o nome dado pela população daquela cidadezinha localizada na Escócia. Em noites de Halloween era comum a visita pelas redondezas, mas atitude e atrevimento de pisar naquele terreno não era visto. O pavor estava escondido dentro de cada um, seja novo ou velho. Como todos os anos, aquele mês de outubro estava repleto de folhas caidas no chão, o outono reinava. A estação fazia com que tudo parecesse mais assustador do que o normal. Doces eram pedidos de porta em porta, fantasias vestidas e sorrisos infantis refletindo a pouca luz que restava nas ruas. O costume foi seguido, e grupos fitavam a casa abandonada, seus olhos ardentes de imaginações. Barulhos eram escutados, ventos cortavam os rostos ali presentes. Presenças eram passadas de um por um. Tudo que avistaram além do nevoeiro, foram vultos por dentro da casa, e um único homem, em pé na frente da porta. Uma corrida tinha começado, o desespero para chegar em casa tomava conta do corpo daqueles adolescentes. Já sentados em volta de uma mesa, apenas com um vela acesa no centro, as histórias de fantasmas começaram a surgir. Um grito agudo saiu da garganta branca de uma das garotas, ao olharem para trás, viram o mesmo homem que estava na casa, segurando um machado, e com um olhar tão maligno, quanto a sua moradia, a Casa 231. 

segunda-feira, 21 de março de 2011

Transilvânia




Foi nesse dia que senti meu sangue correr realmente nas veias, o arrepio da minha pele aflorar e a fascinação juntamente com o medo atravessar os meus olhos. Casas grandes, sombrias e antigas apresentavam a região, assim como seu céu tenebroso no fim da tarde. Passeios eram feitos em carruagens guiadas por cavalos negros, como nos livros e em filmes de terror. Parecia que Bram Stoker não tinha exagerado nada ao escrever Drácula, seu ambiente era exatamente igual, e transmitia o mesmo temor que senti ao ler aquelas frases em sua obra. A noite já tinha aparecido coberta de nuvens cinzas, os ventos que batiam em meu rosto pareciam sussurrar lendas, tudo em volta tinha uma beleza assustadora. A ida ao castelo de Vlad III era guiada exatamente em horários noturnos, segundo um historiador do local: "Vocês só vão ver o que desejam, se estiverem presentes na hora certa". Aquelas palavras eram repetidas na minha cabeça, mas o que meu corpo sentia, era que alguém estava atrás de mim liberando lentamente esse som que me perturbava. Estava encantada com a impressão gigantesca que o castelo passava. Era como se estivesse gravando em um grande jardim com árvores altas e sinistras, mas não, aquilo tudo era real, assim como o vulto que vi passando por trás de uma cruz, na verdade, parecia um túmulo, e era exatamente isso. Os corredores eram largos e com pouca energia. O suspense era a diversão dos guiadores. Turistas com medo de ver algum espírito, vampiro, ou quem sabe o próprio príncipe, vulgo Drácula. Meu coração batia, almejando por algo. Enquanto todos ouviam atentamente a história verdadeira contada, eu via a real, e não era a que estava sendo narrada pelo guia, e sim, a que eu vi do lado de fora. Eu estava presente na hora certa, e tive a certeza disso quando chegamos no corredor onde tinha a sala que Vlad esteve preso. Congelei, meu olhar fixou naqueles olhos negros na minha frente, ele era alto, vestes medievais, capa preta, cabelos tão negros quanto seus olhos alisavam seus ombros. Quem era ele? Ao olhar para trás notei que tinha me perdido por muito tempo em tal imagem à frente e estava sozinha, as pessoas do passeio já tinham ido para a loja da saída. Ele permanecia ali, olhando diretamente para meu rosto, ou quem sabe, para meu pescoço. Era penetrante, e exercia uma força magnética nos meus pensamentos e no meu corpo. Foi então que senti meu sangue quente nas veias, percebi que era a hora de sair daquele corredor. Um sorriso lateral e atraente surgiu em seu rosto, e uma mexida de pescoço para um lado e para o outro. Parecia inofensivo para a minha parte sensível, mas já a consciente sabia exatamente quem ele era e o que queria. Corri, sabendo que o vulto visto anteriormente era o mesmo que vi a segundos atrás. Cheguei na lojinha, achando que meu espírito tinha saído do corpo, não acreditava no que mirava, era ele. Perguntei para o vendedor quem era na pintura, e foi essa a resposta que recebi: "Essa é uma pintura lendária, muitos acreditam ja ter visto o mesmo por aqui, mas nenhum fato se concretizou. É ele mesmo, quem a senhorita está pensando, é Drácula".