domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Outro Lado

O som vinha do lado de fora da porta, mas ela não tinha coragem de abrir, sabia o que a esperava do outro lado, e falar qualquer coisa em direção ao oposto podia ser pior do que ficar na cama, enrolada, e torcendo para as pessoas da casa chegarem. Parecia querer entrar, mas antes, assustar. Seu medo passava por toda sua espinha dorsal e a chuva que caia nas ruas, inundava seu rosto com pânico. Havia uma única luz acesa no quarto, e o som da televisão parecia ter sumido junto com a sua coragem. A porta continuava trancada, e os barulhos pelo corredor aumentavam como os batimentos de seu coração. Aquela frase dita antes talvez fosse o motivo daquilo está acontecendo naquele momento. Sentia vontade de gritar, mas a única coisa que saia da sua garganta era os gemidos junto as lágrimas em seus olhos. Desejava se esconder embaixo de um travesseiro e sumir, mas sua realidade não era essa. Ela devia enfrentar aquilo, e sabia disso, mas também lembrava do que já tinha lido em vários livros. A força do outro era maior que a dela, e isso já pareciam saber. Enxugou as lágrimas e suplicou um momento calmo. Os movimentos tinham acabado, e tudo parecia ter se tranquilizado com um único pedido. A escuridão chegou de repente, e sua voz saiu, mas parecia invisível como o que estava à sua frente. Uma sombra do seu lado pedia: "Me ajude". Falava, gritava e chorava. Seu rosto era de um grau de sofrimento inexistente naquele mundo, era escura, assim como seu quarto tinha ficado. Coisas caiam das mesinhas que ali estavam, a luz piscava, e a mulher se aproximava. Enquanto isso seu corpo tremia, descobriu que o motivo de sua bipolaridade naqueles dias tinha sido a tal moça sem corpo físico na sua frente. Em uma última tentativa a sombra falou: "Me ajude, você é capaz disso". E uma risada ecoou no cômodo. Tinha mais de um ser espiritual presente naquela casa, ela sentia isso. Era tarde demais para voltar atrás, teria que fazer alguma coisa sem ser machucada. Pois nenhuma luz permanecia acesa quando eles decidiam apagar. 

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